quinta-feira, fevereiro 16, 2006

E agora, quem é que vai carregar com todo o peso do mundo às costas?
E agora, quem é que terá coragem de subir e pegar no touro?
E agora, que tudo para mim é relativo, quem se digna a dar importância a tudo o que eu não dou?
Agora, tudo me parece menor.
Nada me parece importante na vida. Pelo menos nada me parece mais importante que a própria vida.
Tudo tem um novo significado para mim. Tudo experimento como se pela primeira vez o fizesse. Na rotina do dia-a-dia encontro o prazer das pequenas coisas.
E sobre tudo me digno a reflectir como se de um problema matemático se tratasse. Não chego a conclusão nenhuma sobre nada, mas tenho sempre o mesmo prazer.
Porque isto pode ser tudo o que temos. Porque isto pode ser tudo. E só nos resta aproveitar, como Horácio, o dia. Respirar pode ser o mais simples milagre que presenciamos todos os dias.
Viver não pode ser um acto repetido todos os dias.
Viver tem de ser o acto único de cada momento.
Porque a vida é isto. Nada mais.

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Só o azul se estende à minha frente. Um azul móvel, revolto de branco, silencioso de tão barulhento. Descanso no mar azul os meus olhos cansados do urbano mundo onde habito. O meu corpo habituado aos encontrões do metro e à corrida do dia-a-dia encontra na areia grossa a cama mais confortável. A mente divaga acerca dos quandos, comos e porquês que me atormentam a vida e perde-se no caminho das respostas. E não vejo mais ninguém naquela praia que me possa fazer voltar ao mundo do real.
Não passavam nem duas horas de companhia de mar quando te vejo, ao fundo, não mais que um vulto ainda. Levanto a cabeça, intrigado com a tua presença. Vais-te aproximando com aquele brilho de Deusa que secretamente julgo ser o único a notar. A camisola fina que trazes vestida esvoaça ao sabor do vento, dançando com as ondas.
Vais-te aproximando, aproximando... Levanto-me para te receber com um sorriso. Abraças-me e atiras-me de novo para a areia. Deitas-te por cima de mim e desta vez és tu quem carrega o sorriso. A tua mão percorre cada centímetro e recanto da minha pele. O teu beijo parece mais adocicado. Na areia, somos um. E com o movimento das ondas batem os nossos corações acelerados de paixão.
Respiro sobre o teu pescoço. A tua cabeça ondula com o movimento do meu peito e eu sinto pelo teu respirar o adormecer.
E adormeço também com os olhos postos no céu.

domingo, fevereiro 12, 2006

E com a ansiedade do amanhã, aguardo impaciente que o dia de hoje comece. Sustenho o respirar fraco enquanto espero pelas horas calmas, vagarosas até, que separam o agora do depois.
Quem dera que o tempo fosse um papel que eu pudesse rasgar, dobrar, escrever, apagar sempre que me apetecesse. Quem me dera poder fazer fast forward, rewind e pause sempre que me apetecesse neste ou naquele particular momento da vida.
Mas o tempo é uma linha recta. O caminho que une dois pontos, o nascimento e a morte, pela menor distância possível. E no caminho do tempo nao existe o voltar atrás, não há estações de serviço na auto-estrada da eternidade e seguimos sempre à mesma velocidade.
E eu só queria ir mais à frente, espreitar o futuro. Voltar atrás e reparar os meus erros, não que não consiga viver com eles. Ficar para sempre parado no tempo bom que vivo. Pegar na tesoura e cortar o tempo desperdiçado com tudo o que desperdicei nele. Pegar na cola e colar todos os bocadinhos mais importantes, todos juntos, para os recordar para sempre como a felicidade.
E o tempo é o que fazemos dele. É uma linha recta com quantas curvas quisermos. Voltamos atrás quantas vezes queremos, enganamo-nos e corrigimo-nos as vezes que forem precisas.
O tempo não existe, é só imaginação. O tempo não existe, é só fantasia.
O tempo existe só quando custa a passar.