domingo, janeiro 15, 2006

Paira em mim um certo indizível, um certo não sei o quê que me perturba. Deixa-me à espera de algo mais mesmo sabendo que não há nada mais para além disto mesmo. Este qualquer coisa que não me larga deprime-me ao ponto de tomar apenas uma coisa como segura e mesmo disso ter medo de a perder.
Este estranho mundo velho parece-me agora novo e enche-me de dúvidas e receios do futuro. Esta casa, velha conhecida, já não me parece tanto um lar mas antes uma certa espécie de lugar onde repouso. E tudo o resto é um acumular de sensações endormecidas por anos de repetições.
E este je ne sais quoi que não me larga não me deixa aproveitar o que tenho. Não me deixa aproveitar o que devia, não me deixa trabalhar. E tudo é para mim como foi ontem, só que mais difícil. E já nada volta atrás. E a minha cama não me parece minha, o meu quarto não é bem meu e vivo na minha casa que não é minha. Vivo a vida dos meus pais e tenho medo de a viver para sempre.
Este unspekable quase que me endoidece ao ponto da dormência. E faz-me olhar para trás e reconhecer todo o tempo que perdi com merdices. Faz-me ver que a vida é isto e só isto. E o que lá vai lá vai e o que virá ainda está para vir. Não sei se quero realmente crescer, não sei se quero realmente tomar as rédeas da minha vida. Mas isto que vivo agora já não me sabe bem a meu.
Um certo coisa qualquer impede-me de ver qualquer coisa. Faz-me reparar nos pormenores e toma-los como gerais. Faz-me detestar os importantes em favor das mesquinhices. Eu sei que não sou o melhor no que faço, sei mesmo que não sou nada de especial na minha ocupação e este quelque chose ataca-me por aí. Porque sei que durante a minha vida vai-me sempre faltar qualquer coisa. Vai-me sempre faltar o que me cura o ego. Vai-me faltar a sensação de ser o melhor em alguma coisa, vai-me faltar a sensação de ser reconhecido como muito bom em alguma coisa que faça.
E essa coisa qualquer que me vai faltar, infelizmente, não é esta qualquer coisa que agora me assombra.

Sem dúvida, a melhor anedota de loiras de sempre!

sábado, janeiro 07, 2006

Aí vem ele. A passos largos e pesados. Quase o consigo ouvir respirar, quase consigo sentir o seu cheiro.
Aí vem ele. Altivo, seguro, destemido. Quase consigo sentir o orgulho dos seus lábios, quase consigo compreender a sua confiança.
Aí vem ele. Sem esperar por nada. Sem esperar por ninguém. Vem como se viesse com calma mas parece correr cada vez mais depressa.
Aí vem ele. Não temas, ele tem que vir. É suposto ele chegar. Não é suposto ser simpático, nem grande nem feliz. É suposto ele chegar.
Aí vem ele. Com a cara tapada, uma camisa suada. Não lhe vemos a cara antes de ele chegar. Não percebemos de onde vem o suor antes de ele chegar.
Aí vem ele. Sem querer saber se estamos prontos para o receber. Sem querer saber se vamos conseguir viver com ele. Sem querer saber se queremos saber dele.
Aí vem ele. Aí vem o futuro.

Oh brother I can't talk to you. I've been trying hard to reach you 'cause I don't know what to do. I'm so scared about the future and I want to talk to you. Where would I be in the future?
I'm lost. I'm incomplete. I feel like they're talking in a language I don't speak.
I whish I could climb a ladder up to the sun, or write a song nobody had sung, or do something that's never been done by anyone. But I can't. I can't do anything.
Nothing seems to make any sense. I don't know where I'm going, it feels like I've been here before. Let's talk. I feel ignored. Let's talk. I'm scared. I don't know what to do. Let's talk.

Free adaptation from "Talk", by Coldplay.