sábado, abril 30, 2005

Continua sempre a seguir, sem se preocupar com a escuridão ou com o frio. O bafo de vapor que se forma à sua frente aquece-lhe a cara enregelada pela falta de sucesso da sua vida. "Quero algo mais" - pensa - "Mereço algo mais!". Senta-se na ponta da falésia, pode mesmo sentir o cheiro do mar. Vai ao carro e traz a velha companheira de começo, a pequena e fraca guitarra clássica que lhe ensinou os primeiros acordes. Primeiro um sol menor em jeito de blues, depois um Fá logo seguido de um Si bemol. Uma nova música se lhe forma na cabeça e nasce com a alvorada da manhã que vai crescendo nas suas costas. "Talvez seja desta" - anima-se -"Não há-de ser sempre o mesmo fracasso. Talvez seja desta".

É impressão minha ou começa-se a formar uma ideia na minha cabeça que poderá ser transformada em livro? Detalhes nos próxmos tempos.

sexta-feira, abril 29, 2005

Certo e determinado rapaz tem uma estranha noção de felicidade que expõem aqui.

segunda-feira, abril 25, 2005

Maldita sensação de derrota. Frustração. Tanto empenho, tanta energia, tantas lágrimas, tantas palavras para nada. Acabou. Não há volta a dar-lhe. Chegou ao ponto sem retorno, chegou ao lugar ermo final, alcançou o tempo limite.
Desperdicei dois anos inteiros da minha vida. E ainda me esperam mais alguns até voltar andar.
Acabou, já não há mais hipótese.
Adeus.

Porque é que no dia da liberdade eu só queria estar preso?

domingo, abril 24, 2005

Barulho, alcool, fumo. Ambiente tão característico de um qualquer 'club' nocturno, na esquina de uma qualquer rua obscuramente marginal, perdida numa cidade grande como qualquer outra.
Tosse, conversas, risos. Luzes semi-boémias, tons de vermelho nos holofotes. O guitarrista bebe o seu último copo antes de pegar na guitarra, o baterista fuma o último charro antes de dar vida às baquetas. O vocalista alheado de tudo como sempre, procura parecer profundo e sensível, tudo fachada, enquanto o baixista flirta com uma das miúdas do bar.
"Voz-off" ouve-se por trás das cortinas, arroucada pelo fraco sistema de som. É a hora de entrar em palco, é a hora de tentar ser alguém. O guitarrista concentra o seu génio singular desperdiçado naquela péssima banda, o vocalista prepara a má voz para as letras intelecto-romântico-foleiras. O baterista e o baixista tocam baixinho para que ninguém se aperceba da falta de talento.
"Estou aqui... por ti..." canta o homem do microfone. Palmas com mais alcool que vontade premeiam a exibição medíocre, ainda pior que a anterior.

O guitarrista arruma a 'Fender' no estojo enquanto olha para o bar vazio.
"Nunca passarei disto", disse. Conteve a lágrima mal-escondida enquanto batia com a tampa do estojo violentamente.
Fechou a porta de serviço atrás de si e saiu para a noite escura, mais clara que a sua vida.

sexta-feira, abril 08, 2005

Corro para fugir de tudo. Dos meus medos, das minhas preocupações, das minhas responsabilidades. De tudo. Alongo os meus músculos para o esforço, preparo-me para o sofrimento físico em vez do sentimental. Sempre é menos doloroso.
Olho em frente, determinado. O caminho é longo, o percurso sinuoso. Mas não temerei. Olho para o lado, para o mar. O cheiro calmante da maresia, a visão da magnífica natureza enche-me de força.
A música para os meus ouvidos nos meus ouvidos. Tudo está pronto. Respiro fundo e começo a correr.
Olhos fixos no objectivo invísivel, mentalmente trauteio as músicas que vou ouvindo. "Pronto pra ir, ao fim do mundo atrás de ti". Pronto para correr até ao fim do mundo.
O vento manso na minha cara refresca-me corpo e alma. O barulho das ondas como acompanhamento do Jorge Cruz nos meus ouvidos produz uma estranha harmonia pacificadora. Ao ritmo das minhas passadas desfilam-me na cabeça imagens que pretendo esquecer, imagens das quais eu nem me recordava e imagens que eu pretendo nunca mais esquecer. Momentos de felicidade e momentos horríveis ocorriam-me sempre que fechava os olhos.
Lá no alto, no cimo do molhe, entreguei tudo como sacrifício à Senhora do mar. Ela sorriu ao meu esforço com uma enorme vaga.
Estou livre dos pesos que me atormentam por agora.
A corrida libertou-me das preocupações.
O sofrimento físico fez desaparecer por momentos o outro.
A correr, sou mais livre que um pássaro, mais leve que uma pena.
Quero correr até à eternidade.

quinta-feira, abril 07, 2005

É muito mais difícil sair do que entrar. As paredes do horrível poço, por breves momentos belo, agarram-nos de tal maneira que a fuga só se torna possível com toneladas de vontade. É como uma droga leve e alucinogénica que nos vai viciando sem nos apercebermos, que nos dá uma enorme sensação de felicidade logo seguida da terrível ressaca. São as inúmeras canecas de cerveja numa tarde de verão que acabam por ser o dobro ou o triplo para nós do que para a realidade. Ao princípio freso e revigorante, depois desmoralizante e por fim desesperante. Sem saída para os fracos, encurralando os fortes. É assim o milagre da vida e da morte. O milagre que dá à nossa vida um sentido e amacia a nossa partida.
Vício terríficamente bom, remédio altamente degradante: assim o é na realidade. Tão bom que não o conseguimos deixar; tão mau que só nos queremos ver livres dele.
Assim o é a droga miraculosa, a cura dos solitários, a perdição dos justos. Assim o é o indizível, o imprununciável sentimento.
A droga milagrosa.
Estou agarrado à droga milagrosa e não consigo sair. Por muito que tente, não o consigo. Sou um drogado, bêbedo, viciado no terrível mal.
A maldita droga milagrosa.

Remake de um certo e determinado post, desta vez em português, lingua mater.