terça-feira, setembro 28, 2004

Não percebo. Julgava já ter este assunto enterrado e morto, mas estava apenas moribundo e escondido. Julgava que o esquecimento se tinha apoderado de mim e julgava-me novamente insensível à dor ou ao prazer. Estava enganado.
Sinto o vazio da incerteza. Sinto a dor da solidão a atacar novamente em grande força. Sinto-me novamente prestes a desabar, sinto-me novamente frágil e longínquo.
Não percebo. Julgava que já me tinha vacinado contra esta gripe, mas afinal tenho nova recaída e desta vez sem razão aparente. Não percebo!
Estavam enganados todos aqueles que me diziam que o tempo tudo apaga, estavam errados todos aqueles adeptos do famoso dito "Longe da vista, longe do coração". Do coração talvez, mas não de certeza longe da alma e muito menos longe da mente. Não percebo como voltei a sentir tanta falta daquilo que não tive. Não percebo como voltei a sentir tanta falta do pouco que tive. Não percebo como é que se pode viver neste estado de vazio, de falta de rumo. Não percebo como é que ainda existo. Não percebo como me tornei neste autómato que faz uma vida normal sem alma corroída pela dor, sem tristeza nem felicidade. Sem nada.
Não percebo.

segunda-feira, setembro 27, 2004

Hoje é noite de lua cheia. É noite em que as memórias se tornam mais fortes, é noite onde os desejos se aproximam e as saudades se agravam.
Quando saí hoje de casa e olhei para cima, lembrei-me das noites irmãs, distantes, onde olhava para a lua especialmente brilhante e simplesmente ficava contente por poder ter mais oportunidades para inverter a minha sorte. Olhava a lua e acreditava, ou antes, sonhava, que em noites de lua cheia a minha sorte estava destinada a mudar. Olhava a lua e sorria, pois sabia que as coisas não podiam ser sempre iguais, sorria porque pensava que merecia melhor destino e alegrava-me porque sempre sonhara que seria numa noite dessas que o meu azar me abandonava. Quem sabe, talvez fosse naquela.
Naquelas noites quando contemplava a maravilha celeste, não conseguia tirar o riso estúpido da minha face, e durante várias vezes, sempre que procurava outras palavras, só me saía: "A lua está linda hoje". Fitava-a insitentemente como se dela saisse a solução que eu esperava. Naquelas noites quando contemplava a beleza lunar acreditava que a felicidade e o amor talvez também me estivessem destinados.
Mas hoje, quando saí e olhei a lua cheia, só consegui pensar em ti e no passado, e até agora não me saiu o mesmo pensamento estúpido e descabido da cabeça: estava enganado. Estava enganado quando pensava que julgava ter morto tudo, estava enganado quando julgava que tinha esquecido tudo, estava mesmo enganado quando julgava estar pronto para nova jornada.
Tudo isto estava apenas num canto escuro que hoje foi iluminado pela luz forte da lua cheia.

terça-feira, setembro 21, 2004

Sinto-me um pouco estranho hoje. Uma mistura de sentimentos e emoções deixa-me numa disposição diferente do habitual: mais sensível, mais carente, mais triste, mais frágil mas ao mesmo tempo mais irritável, menos paciente, mais revoltado, mais ansioso, mais cansado, mais preguiçoso, mais aberto e mais camuflado.
Sinto-me de tal maneira estranho que não existe qualquer palavra para descrever a maneira como me sinto. Estou estranho ao ponto de inventar uma palavra para definir o meu estado de espírito de hoje: fronho.
É isso. Hoje estou fronho.

domingo, setembro 19, 2004

Decidi escrever um livro contando toda a história por detrás dos textos escritos neste e noutro blog. Não passa de uma tentativa de tentar por um ponto final na minha cabeça aquilo que parece ter tido um ponto final na realidade.
Talvez o tente publicar talvez não. Talvez o mostre a alguém, talvez não. Talvez o chegue a escrever, embora seja bem provavel que não. Quem sabe?

terça-feira, setembro 14, 2004

São agora aproximadamente 2 menos 25 da madrugada e no entanto, embora extremamente cansado, não consigo dormir. Aliás, à já algum tempo para cá em que são raras as noites de descanso que passo. Ou só consigo adormecer muito tarde e levanto-me demasiado cedo, ou embora dormindo até mais tarde acordo de 5 em 5 minutos e não consigo repousar o que o meu corpo precisa realmente. Por estranho que pareça a noite em que melhor dormi no último mês foi precisamente a noite em que mais coisas tinha na cabeça, na noite em que a tristeza mais me apanhou, na noite em que mais desfeito estava. Nessa noite, na noite de sábado para domingo, aconteceu-me uma das coisas que mais detesto e que só acontece quando estou realmente triste. Acordei com os olhos embebidos em água. É horrível para mim a sensação de que até o meu subconsciente está triste, é como que uma nota que estou oficialmente de corpo e alma em pedaços. Principalmente para mim que sou um rapaz que não consegue chorar facilmente, por muito que queira... nem mesmo na mais triste das situações mas naquela noite, enquanto dormia não consegui conter as lágrimas.
Só me apercebi do quão mal tenho dormido à cerca de umas horas atrás enquanto conversava com uma amiga minha.
Vou agora para a cama tentar dormir. Não é normal um rapaz como eu ter tanta coisa na cabeça ao ponto de nem durante o sono conseguir parar de sofrer...

domingo, setembro 12, 2004

Assim não. Não desta maneira. Não devia ser assim. Não estava escrito que era assim.
Não depois de tudo o que eu fiz. Não depois de tudo por que passei, por tudo o que passamos.
Não depois das noites inteiras sem dormir. Não depois dos discursos de "vai tudo correr bem".
Não depois das promessas de saudade.
Não devia ser assim, pelo menos não neste momento. Não no único momento da minha vida em que odeio a pessoa que amo. Não na altura em que não te posso dar o conforto que precisas.
Assim não. Não desta maneira.

sexta-feira, setembro 10, 2004

Sou um um optimista. Quem disser o contrário é um mentiroso de todo o tamanho que só está bem quando me vê por baixo.
Como sou bastante optimista, nos dias em que nem estou mal-disposto consigo encontrar sempre um aspecto positivo na pior das situações. Hoje dediquei-me a isso.
Procurei e depois de muito procurar, consegui encontrar um aspecto que pode ser apelidado de "positivo" na minha vida. Com esta história toda de estar sozinho e a sofrer, acabei por me transformar num espectador. Criei hábitos de observar tudo e todos, principalmente quando ando sozinho sem objectivo.
E por incrivel que pareça, é raríssimo encontrar pessoas muito mais felizes do que eu. Na generalidade são mais felizes, mas não muito. Principalmente os casais. Aqueles que supostamente se amam, que deviam perdoar e esquecer, são os que mais frequentemente encontro com má-disposição, zangados com o seu parceiro ou presos a uma relação que não querem, vivendo assim num estado de felicidade infeliz.
Perante isto meus amigos, naqueles dias em que estou sozinho fechado no meu quarto, deitado na minha cama a olhar para o tecto, a sofrer por não ter ninguém que eu possa abraçar quando quiser, beijar quando fosse preciso e principalmente falar só porque sabe bem falar com a pessoa amada, nesses dias em que procuro um sentido para continuar a levar a minha vida para frente, sinto-me bem por poder desfrutar da solidão. Lembro-me daqueles que se juntam apenas para estarem acompanhados, daqueles que tremem somente perante a ideia de ficarem sozinhos e rio-me dos que pensam que a infelicidade supera a solidão.
Talvez a solidão não seja assim tão má. É de certeza bem melhor do que aquilo que muita gente tem.
E como podem ver, consegui encontrar um lado animador na vida triste e dolorosa que levo.
Podia ser pior.

terça-feira, setembro 07, 2004

E porque a minha história pode ser contada de muitas maneiras, abri aqui um FotoBlog para exprimir por imagens aquilo que não vos consigo transmitir por palavras. Espero que visitem.

quinta-feira, setembro 02, 2004

É cada vez mais difícil. Cada dia que passa, cada vez que o ponteiro dos minutos se encontra com o das horas, cada vez que o ponteiro dos segundos se mexe torna-se mais difícil de aguentar com a fachada da força que eu sou, porque eu não sou mais do que isso agora: uma fachada.
Já não tenho mais nada dentro de mim para além de ruínas, mas mesmo assim o exterior permanece intocável. Mas por quanto tempo? Durante quanto tempo vou aguentar com isto? Agora não passo de uma imagem de um edifício outrora forte, imponente, belo até, mas que não é mais do que uma recordação percorrida de alto a baixo por fendas que ameaçam o colapso.
À minha frente as gentes caminham como se nada fosse, sem se aperceberem do risco que correm ao passarem tão perto de mim. Tenho medo de que quando cair, ceife a alma de algum inocente que perto de mim passava sem se aperceber de nada.
Não sou mais que a fachada de um edifício em ruínas que, mais tarde ou mais cedo, vai acabar por eclodir também.