quarta-feira, março 30, 2005

Estúpida é a maneira como a maldita e enganadora esperança vem dentro dos embrulhos mais pequenos.

segunda-feira, março 28, 2005

A morte é a unica constante da vida. Concreta e definida é a ideia que um dia todos havemos de morrer. A única coisa de que tenho certezas, é que um dia hei-de morrer.
Mas eu não tenho medo de morrer. Não tenho medo de deixar de respirar, de não voltar a ver o mar. Nem pena sequer. Tenho pena das pessoas que cá ficam. Tenho pena, compaixão pelos que ficam a sofrer. A sensação de perda definitiva é a pior de todas. Muito pior do que o falecido esposo fica a viúva que o amava. Muito pior que o filho que morreu num desastre fica a mãe sempre que anda de automóvel. Depois da morte tudo passa. A morte é libertadora de uma nova vida, assim me diz a minha crença. Mas para os que não atingiram ainda essa fronteira final, a morte de alguém amado é o pior dos castigos.
Ainda hoje, estive numa sala rodeado por ela. Vi o desespero dos mortos queridos nos olhos da minha mãe; vi a angústia de uma morte próxima nos olhos da minha madrinha; vi o alívio que a morte traria espelhado nos olhos da mãe da minha madrinha; vi o medo total da morte nos olhos receosos da minha avó. As quatro falavam da morte. Eu ouvia remoendo por dentro a remota possibilidade de perder alguém próximo. Não tenho medo da morte, tenho medo que os outros morram. Tenho medo de não tornar a ver mais a cara de alguém que eu goste muito, de não tornar a falar com ela. Ainda não aceitei a morte como a continuação da vida. Ainda não cresci o suficiente para isso. Um dia vou conseguir, mas provavelmente, só depois de perder alguém. Só espero que esse dia demore muito tempo. Não estou preparado para a morte de ninguém, excepto para a minha. Só consigo imaginar a dor de perder alguém. E sei que a minha imaginação neste aspecto tem fronteiras muito limitadas.
Não tenho medo da morte. Não tenho medo de falar nela. Não tenho medo de pensar nela. Não tenho medo que ela me leve.
Tenho medo que ela leve a pessoa que está ao meu lado.

O repouso ajudou a colocar algumas ideias em ordem, mas é certo que não é remédio para todos os meus males. As águas miraculosas e refrescantes da cascata que sobre a casa onde estive pendiam não foram suficientes para refrescar a cabeça de pensamentos antigos. Nem sequer a maldita congestão de que sofri no úlimo dia serviu para pôr algum juízo na minha parva cabeça. Continuo na mesma.
É certo que as preocupações académicas se esvaíram mas o maldito tormento espiritual teima em me apoquentar. Continuo com a estúpida sensação de solidão. Continuo com a horrível noção de que não há ninguém para mim. Continuo sozinho.
É claro que eu também não esperava em quatro dias afugentar o meu mal de toda a vida, mas esperava que lhe passasse a dar menos importância. Esperava não ligar tanto à minha existência só, esperava passar a importar-me mais com a minha existência. Objectivo não cumprido.
A verdade verdadinha é que cada vez mais estou farto de andar sozinho. Cada vez mais estou farto de ter de olhar o mar sozinho. Cada vez mais estou farto de ir ao cinema sozinho. Cada vez mais estou farto de escrever sozinho. Cada vez sinto mais falta de alguém que me complete. Cada vez sinto mais falta de alguém que me aplauda mesmo nas vezes em que pior me saem as notas. Cada vez sinto mais a falta de alguém que sorria para mim, comigo e por mim. Sinto a falta de alguém que me acompanhe lado a lado. Sinto falta de alguém que goste de mim de uma maneira diferente da que a minha família e os meus amigos gostam. Sinto falta de alguém a quem telefonar em vez de escrever estes desabafos solitários.
E o pior de tudo é que eu sei quem esse alguém é, e não há nada que eu possa fazer para o mudar. E o pior de tudo é que este modo de vida está-se a tornar num hábito. E o pior de tudo é que este hábito se está a tornar em mim.
Sou cada vez menos alguém a fugir da solidão. Sou cada vez mais a solidão a tentar encontrar alguém.
E nem a Peneda fez reverter o processo.

domingo, março 20, 2005

Sair de casa durante alguns dias, afastar-me do stress do quotidiano (seja lá o que isso for), retirar-me da civilização deveria ser uma coisa boa para mim, para a minha mente, o meu corpo e o meu espírito. Se é assim, então por que é que eu não tenho vontade nenhuma de ir? Parto hoje, depois de almoço; volto na quarta à tarde.
Até lá.

Na mesa escondida do canto do café, cadernos e canetas indicavam a minha presença solitária. A marca de duas Stouts, a maravilha das cervejas negras, no tampo da mesa mostravam a minha predilecção pelo trabalho bem regado. Escrevi durante aquelas duas horas sozinho. Durante as duas horas que contava passar com os meus amigos e especialmente com aquela que não me sai da cabeça. Ninguém quis vir comigo. E eu não quis ficar em casa. O ambiente estava horrivel, os meus pais discutiam, a minha mãe extremamente irritável. Já me doía a cabeça, tinha de sair de casa. A minha mãe fica sempre assim de cada vez que eu vou para fora. Começo-me a preocupar com ela. Se um dia eu tiver que sair de vez, como é que vai ser? Tinha de sair de casa para espairecer. Fui até ao café costumeiro, sentei-me , cumprimentei o dono e mandei vir a minha preta do costume. Estive lá a acabar o trabalho que tinha de ter pronto hoje. Aproveitei escrevi também para a minha grande amiga, que já não vejo há muito. Escrevi um poema. Tudo sozinho.
Ao voltar para casa, no metro, saltei fora de mim e observei o meu patético ser. Sozinho, num metro amarelo, cabeça encostada ao vidro, lágrima mal-escondida no canto do olho eu era a representação perfeita da solidão. Triste mas orgulhosa. Sozinha mas determinada. Eu sou assim. Sou a solidão de passar um sábado à noite num café cheio, sozinho. Sou a solidão que geme no caminho de casa por alguém. A solidão sou eu, num metro amarelo.

domingo, março 13, 2005

Acho que este blog se está a tornar mais numa coisa para ela do que para mim. E vou tentar mudar isso. Criei este espaço para mim e não para lhe oferecer. Vou ser egoísta uma vez na vida. Isto vai manter-se meu. Não vou deixar que isto se torne numa Ode a S. como tudo o resto que eu faço parece tornar-se.
Desculpem os meus leitores (poucos mas bons, muito bons) e amigos que têm vindo a suportar os meus últimos textos demasiado carregados de mel azedo. Vou mudar a coisa, vou voltar a escrever sobre mim como dantes. Sobre a maneira como eu me sinto e encaro as coisas. Esta vai voltar a ser a história de um rapaz. Back in black

E quanto a ti S., se é que realmente ainda vens aqui, acho que sabes perfeitamente o que eu sinto por ti. Cansei de repetir aquilo que tens medo de ouvir e estou farto de esperar por aquilo que tens medo de falar.

Mais uma vez, desculpem.

Começo a ter alguma dificuldade em acreditar numa pequena coisinha abstracta que em inglês se diz love e que em português soa um pouco pior, o amor.

Como diziam os Clã, "Podia ser como no cinema, a língua inglesa fica sempre bem e nunca magoa ninguém" já que "é só pra dizer que te amo" ainda. Infelizmente, ainda.

Se bem que amar é uma palavra demasiado forte. Não tenho experiência de vida suficiente para saber verdadeiramente o que isso é. E, para os homens como eu, usá-la em demasia é banaliza-la, tirar-lhe o sentido.
E eu não quero banalizar o amor. Nem o que sinto por ti, seja lá o que for.

quarta-feira, março 09, 2005

Às vezes, não consegues fazer tudo sozinho. Às vezes não consegues aguentar com tudo sozinho. Precisas de alguém que te ajude, alguém te ampare. Precisas de alguém te acompanhe, que te diga "sim" quando precisas e "não" quando estás errado. Precisas de alguém que goste de ti pelo que és e não pelo que deverias ser.
Às vezes não consegues fazer tudo sozinho e precisas de alguém que te faça admitir isso. Precisas de alguém com quem possas ser verdadeiro, alguém que seja verdadeiro contigo. Alguém que esteja ao teu lado. Alguém que te merece realmente. Alguém que esteja disposto a fazer tudo por ti e que tu estejas disposto a fazer tudo por ele.
Precisas de alguém que te ame.

Precisas de alguém como eu, não precisas?

Inspirado por "Sometimes you can't make it on your own". Aparentemente, hoje estou numa onda U2.

A miracle. I need a miracle. A big fucking miracle that could turn my sad laughter in to a huge true smile. A miracle that could make me one happy fellow, a miracle that could turn me in to a lucky man. A miracle, that's what I need.
I need a miracle.
A miracle drug.
A miracle called love.

Mood by U2, 'Miracle drug'

domingo, março 06, 2005

Afinal sou forte. Afinal tenho força, auto-estima, dignidade. Afinal ainda me resta um nico de orgulho. Afinal não sou um sabujo que começa todas as frases com a palavra "Não" para dar ares de que pensa por si próprio. Afinal não sou o urso que passa a vida a rastejar pela ursa. Afinal sou alguém que gosta de si próprio.
Descobri isso hoje.
Pensava que isso me faria sentir melhor. Estava enganado.