quinta-feira, outubro 20, 2005

Então é isto a felicidade! Tal e qual como tu me dizias que ia ser. Um dia de cada vez e cada um melhor que o outro. Então é isto o recomeçar, o final de um e o começo do outro, é a isto que sabe não trazer mais a amargura na boca.
Passei tanto tempo a perguntar-me se realmente valia a pena procurar uma coisa que nem sabia como iria ser e finalmente tenho a resposta. Vale a pena. Vale todo o sacrifício e mais algum.
Todo aquele tempo que passei a olhar para baixo fez-me esquecer o azul do céu. E sabem que mais? O céu é azul e lindo. Todo aquele tempo fez-me esquecer a beleza musical. E querem saber? A música faz a terra girar. E perde-se a noção do tempo e das horas, do espaço e da distância, da velocidade e aceleração.
Além afinal é já ali e aproxima-se com uma velocidade e aceleração positivas. Agora é passado e o depois é agora.
3 meses são segundos. Mas são os melhores segundos da minha vida.

sábado, outubro 15, 2005

Estou cansado. Ainda agora comecei e já estou cansado. Talvez ainda não tenha entrado na rotina, espero que seja só isso. Quero acreditar que é só isso. Mas tenho medo que não seja.
Estou cansado. De tudo um pouco. De mim, da rotina pesada, da pressão, de mim, do estudo, do trabalho, de mim, dos nervos, da ansiedade e de mim.
Estou cansado. Sem tempo para descansar. Sem horas de sono suficientes. Não tenho tido tempo para mim, para os outros, para ti.
Estou cansado. Estou cansado de estar cansado e só estou cansado há pouco tempo. E o trabalho acumula-se. As preocupações acumulam-se. Dores de cabeça, olheiras, vontade de desistir.
Estou cansado. Farto. Exausto. É muito trabalho, demasiado trabalho. A culpa é minha eu sei, quem me manda ser paranóico?
Estou cansado.

quarta-feira, outubro 05, 2005

Nem sempre é fácil dizer as palavras mais fáceis de dizer. Nem sempre é fácil exprimir aquilo que achamos que toda a gente sabe. Porque toda a gente sabe, é mais difícil libertar a língua para o óbvio. Mas às vezes sabe bem apontar o óbvio. Às vezes é bom ouvir o que toda a gente sabe vindo da nossa boca.
E sabe bem abrir o coração e deixar escapar as palavras que toda a gente conhece, que toda a gente banaliza, pela boca. Sabe bem, uma vez por entre outra, abrir a auto-estrada do coração à língua. Dizer o que se sente. Exprimir oralmente aquilo que queremos que o outro saiba já de antemão. E que sabemos que ele sabe. E sabemos que ele sente. Mas queremos mesmo assim que ele ouça. Porque também sabe bem ouvir. Sabe mesmo muito bem ouvir aquilo que já se sabe. Aquilo que sabemos que o outro sente lá dentro no coração. Aquilo que sentimos também. E é por isso que é tão difícil exprimir isso. Porque dizemos o que pensamos, não o que sentimos. E raramente sentimos o que dizemos. Mas quando isso acontece, é bom dizer. E é bom escutar.
E mesmo que ninguém diga nada, também não faz mal. Porque eu sei o que o teu coração me quer dizer e tu sabes o que o meu te quer falar.

Transformo-me noutro alguém e corro as ruas calmas, pela calçada, de uma cidade desconhecida para o meu velho eu. Todo o velho é novo para os meus olhos desconhecidos e todo o moderno deu lugar ao antigo. Estou numa cidade estranha, num tempo passado e num corpo emprestado. Os olhos, que não são meus, observam as ruas nostálgicas de um tempo que não vivi. Uma velha carroça quase me atropela, os cavalos assustam-se e ouço o "Hey" do dono gritado por detrás de mim. Não tinha percebido que havia descido o passeio para a estrada calcetada.
Os velhos edifícios em tons de sépia, pelo menos ao ver dos meus olhos emprestados, alinhavam-se numa perfeita simetria de bairro moderno. Plantas nas varandas, roupa estendida nas cordas que uniam prédios, mulheres de casa de braços nús, à janela, cumprimentando quem passava. Senhoras da sociedade passeavam de braço dado com os seus maridos à sombra das sombrinhas. Vendedoras vendiam sem sombra de sombrinhas e sem o braço dos seus maridos.
Voltei abrupta e involuntariamente ao meu eu verdadeiro, ao meu eu eu. Os olhos, os meus entenda-se, ganharam novamente o espectro completo de cores e voltaram a ver a modernidade do seculo XXI espalhada nos ecrãs das largas ruas movimentadas. Esta é a minha cidade. Este é o meu tempo. Este é o meu corpo.
Mas também sentirei falta de ser outro alguém, numa cidade desconhecida, num tempo passado.

domingo, outubro 02, 2005

Eu queria ser tudo. Eu queria ser nada. Ser a estátua da liberdade, ou o grão de areia aos seus pés. Queria ser mais alto para querer ser mais baixo. Se fosse tudo queria ser nada. E não sendo nada quero tudo. Tudo o que não tenho. E do que tenho nada quero.
Porque o homem é a inconformidade em pessoa. E não se conforma com isso. E é estupido demais para perceber que a felicidade e realização encontra nas pequenas coisas, nunca na estátua da liberdade.
Porque o homem é pequeno e quer ser grande sem saber primeiro ser pequeno. Porque eu sou um homem e como pequeno quero ser grande sem conseguir ser pequeno. E por isso preciso de alguem grande que me deixe ser pequeno.
Uma mulher. Quem melhor? Porque uma mulher é um homem maior, melhor. E mais bonito. E só uma mulher me deixa ser pequeno sendo ela a maior. Só UMA mulher.
Tu.