quarta-feira, agosto 02, 2006

Vejo o punho do indivíduo a vir na direcção do meu nariz desprotegido. O impacto é inevitável. Fecho os olhos e gemo de antecipação.
Mal sinto o impacto. Volto a abrir os olhos e vejo nos olhos do meu adversário toda a raiva que ele acaba de desferir em mim. É horrível o olhar da raiva. Vejo o raiar do sangue nos olhos. E sinto nos meus o mesmo raiar a fluir.
Levo lentamente a mão ao nariz e fecho os olhos assim que o toco para apurar o tacto. Parece-me sentir um fluído entre os dedos, já desconfiava deste resultado. Abro os olhos e confirmo o sangue que me cobria agora os dedos.
Cerro o punho. Aquele esgar violento cresce em mim, consigo sentir o pulsar das veias da testa, da garganta, até o leve latejar dos meus olhos que agora não são mais que duas esferas avermelhadas e profundas.
Todos os meus músculos flectem preparando-se para o embate. Armo o braço como se me preparasse para lançar uma flecha. Mas não tenho arco e a flecha é o meu próprio braço. Sinto-o a ganhar velocidade e a fugir ao meu controlo.
Nos olhos do outro homem vejo fugazmente um olhar de medo. Rapidamente substituido por um sorriso fanfarrão de confiança.
O meu ataque tira-lhe rapidamente o esgar enervante. Misturado com o meu próprio sangue que já tinha nos punhos, tenho agora também o do meu oponente.
Olho enervado para dentro de mim próprio. Como fui capaz? Como é que alguém é capaz de fazer uma coisa destas? Vejo o meu adversário no chão. Aparentemente, a raiva não me permite controlar a força. Desmaiou com o meu ataque e para além do nariz que lhe parti, jorra sangue da sua nuca. Bateu com a cabeça no chão enquanto caía, não tive culpa.
Mancha irremediavelmente o chão. Ouço a sirene da bófia, só penso em sair dali. Mas paro por momentos a contemplar o resultado do meu punho. E não consigo deixar de sentir prazer ao ver o resultado da minha acção. Fujo então.
Afinal sempre é verdade o que dizem. Todos temos um lado sanguinário.