sábado, julho 08, 2006

Às vezes gostava de ser escritor. Pôr tudo aquilo que me passa na cabeça por escrito. Só tarde me apercebo que a velocidade dos meus pensamentos é pelo meos mil vezes mais rápida que a da minha mão.
Às vezes gostava de saber escrever. Então pego num caderno e numa caneta ou num lápis e num pedaço de papel ou num teclado, e num esforço oco passo palavras soltas e frases desconexas para o meio físico, corrigível ou virtual.
Gostava de conseguir transformar a minha cabeça num livro. Ou em vários, tal é a amálgama de pedaços de coisas diferentes. Nessas alturas pego nos utensílios de há pouco, em um ou até em todos, sento-me e observo o tecto. Espero nele descobrir aquilol que os ignorantes e os "writer wannabes" chamam inspiração. Escusado será dizer que a existir tal entidade não está escondida num rugoso e branco tecto.
A verdade é que eu sei que essa chamada "inspiração", e aqui estou a fazer aqueles gestos com os dedos como as pessoas que querem indicar as aspas quando estão a falar, não existe. Ou, se existe, nunca me foi apresentada, o que é uma pena, tinha muito gosto em conhecer a senhora, ou menina, que isto do cavalheirismo tem que se lhe diga.
Nesses dias em que escrevo, a única coisa que tenho é isso mesmo: vontade de escrever. Sim, a verdade é que essa vontade a tenho todos os dias, mas nessas jornas em particular sou capaz de passar a tinta, ou a graffiti, ou a bytes, o que na mente me paira.
Digo isto porque nunca me senti inspirado. Já me senti triste: então escrevi. Já me senti alegre e nada passei da minha cabeça. Já me senti desesperado e a caneta levou com as culpas. Talvez seja isso a inspiração: um estado de alma tão deplorável que só escrevendo se alivia.
Não mais quero estar inspirado.