sexta-feira, agosto 04, 2006

No meu interior, de todos os estados em que a minha alma pode estar, aquele que mais detesto não é a tristeza ou a solidão, mas sim aquele que não consigo descrever.
Há um estado em mim que me aparece de tempos a tempos e que me é impossível transmitir o que quer que seja dele.
Talvez por não ser algo meu. Vejo-me nesta situação, quase sempre, perante a situação dos outros. Ao ver ou sentir a obra de alguém, realizada sob determinado estado de espírito do artista, sinto este espírito atacar-me.
É indecifrável. É uma espécie de semi-identificação com aquilo que alguém está a descrever de alguma forma. Seja através de um filme, um texto ou um livro, uma música, uma tela, o que quer que seja. Quando depois de ter contacto com a obra, me sinto naquele estado que não consigo descrever, nesse momento percebo que nunca esquecerei aquilo que me colocou lá. Serei sempre capaz de o rever uma e outra vez e sempre me deixará na mesma indescritível situação.
É o meu lado masoquista que fala nessas alturas. Porque é para mim, alguém que passa toda a vida a letras, é uma tortura quando não se consegue descrever algo. E ao mesmo tempo, é um prazer enorme sentir-me tocado pelo trabalho de outro. Infelizmente, não é algo que posso experienciar muitas vezes. É um pouco como o melhor orgasmo da nossa vida. Curto, mas muito, muito intenso. E raramente o atingimos.
É isso mesmo que sinto nessas alturas. Um orgasmo do ágape. O clímax do ser.
Por vezes sonho e desejo que alguém, algum dia, nalgum lugar, tenha uma sensação similar após contacto com algo que eu venha a produzir.
Um dia vou conseguir.