domingo, abril 16, 2006

À minha frente estende-se uma mistura de verde com água e céu um tanto ou quanto azul. Neste sítio a paz parece realmente possível. Torna-se difícil para a mente imaginar que noutro lugar qualquer do mundo a agitação e o medo, o terror, ódio e coisas que tais são uma realidade.
A água do rio sopa quase que irrita de tão calma, quase que enerva de tão serena contrastando com a agitação real no nosso imaginário silencioso. O canto dos pássaros é indistinguível por entre os barulhos próprios da nossa cabeça, nem sequer conseguimos distinguir se ele existe ou se existe apenas em nós.
Ao levantar a cabeça para o céu deparamo-nos com o vôo de uma águia-real, a última por estas bandas do parque, segundo ouvi algures. Pelo menos foi isso que julgamos ver, mas quem sabe não estariam os nossos olhos tolhidos por algum sentimento mais voador ou por algum pensamento mais ambicioso?
Na encosta do vale que terminava no rio podiamos ver, felizmente, inúmeras árvores, umas maiores que outras e outras tantas mais frondosas que as primeiras. Por entre elas, na imaginação, discortinavamos uma ou outra raposa que corria ferozmente atrás da sua presa e podiamos mesmo jurar ouvir o uivo de um lobo madrugador no cimo do penedo, lá do outro lado da vista, que, solitário, clamava a sua solidão aos solitários daquele vale.
E nas águas do rio pensamos ver um peixe com equipamento de mergulho perseguindo outro peixe mais veloz que nada só pelas próprias guelras confiando na despoluição do doce rio.
E só me falta o sol laranja para acabar este quadro. Ele que se vai pondo com o vagar de que não se quer ir embora torna em seu redor todas as coisas mais quentes e lembra-nos que a hora do jantar se aproxima com a velocidade com que a lua pretende tomar conta do céu e da paisagem.
Isto é a paz.