domingo, março 26, 2006

Fujo por entre as gentes para me refugiar num copo. O empregado olha para mim, enquanto me serve um martini bem medido, com olhar cúmplice. Sorrio de volta. Tanta gente pseudo-sofisticada, copos na mão, tapas de caviar na outra. Riso bem medido, afinal ainda nem são três da tarde, não deu tempo para ninguém se revelar com o alcool. Eu mesmo me sinto um pouco snob com o meu martini e olhar inquisitivo. Mas isso trata-se. Este já foi, venha mais outro. Ainda são aperitivos mas já há pessoas a rir sem preconceitos, abraçados a amigos de longa data e a deixarem-se ser quem são na realidade. Outro copo. E começo a sentir-me mal com o meu ar de observador. Quase que me começo a sentir superior. Detesto isso. E venha mais um copo para me lembrar de quem eu sou. Já começo a conversar alegremente com toda a gente e toda a gente é conhecida. Já começamos a cercar os empregados com os bolinhos de bacalhau. E venha mais um copo para não arrefecer. E com o avançar da festa toda a gente se permite ser quem é. Já não vejo mais pseudo-sofisticados como eu (se é que existe alguém que se possa chamar de sofisticado neste mundo), já não há mais snobs como eu, nem mais ares superiores como eu. Lentamente toda a gente se torna igual e toda a gente se diverte, porque é para isso que servem as festas.
Mas venha mais um copo que este já está no fim.