O nervoso miúdinho daquele que se esperava um reencontro emocionado crescia dentro de mim, transformando-se de um simples e pequeno sussurro para um grito lancinante que quase me ensurdecia. Quanto te vi, fingi o contrário. Virei a cabeça, respirei fundo, entrei. Juntei-me ao nosso grupo de sempre e resolvi ignorar-te, transparecendo uma calma mentirosa.
Não resesti. Dei a volta ao grupo de gente amiga para te apanhar de surpresa.Toquei-te para que te voltasses para mim. Sorriste, abraçamo-nos. Fingi birra, imitei-me a mim mesmo em versão zangado. Não consegui lá muito bem, sou péssimo actor.
Ainda faltava muito para o espetáculo começar e fomo-nos entretendo a contar um ao outro as histórias das semanas longe.
A hora aproximava-se, e mais tarde ou mais cedo a música iria começar, privando-nos da agradável conversa durante as próximas horas. Fomo-nos posicionando para uma posição preveligiada de visão do palco.
A luzes baixaram de intensidade e uma voz anunciava os músicos. O espetáculo ia começar.
Uma atrás da outra, as músicas iam rolando. Naquelas mais intimistas, eu abraçava-te o ventre e tu agarravas os meus braços como se tivesses medo que eu te fugisse. Cantávamos em coro com a multidão e com a banda as letras tantas vezes choradas mas eu só te ouvia a ti. Por vezes cheirava o teu cabelo para voltar a sentir o aroma delicioso da paixão. Outras vezes, segurava a minha cabeça nos teus ombros e fechava os olhos para conter uma lágrima de saudade, tristeza e alegria. Trocavamos um ou outro beijo, carinho ou piada nos poucos segundos mortos.
Revivi tudo o que tinhamos passado, todos os outros concertos a que tinhamos assistido de forma idêntica, todos os momentos que passamos juntos. Tudo assomava à minha cabeça como se fosse uma avalanche.
E no fim, mesmo no finzinho, não consegui evitar a estupurada da lágrima na música mais lamechas e popularucha da noite. "Se não te deste a ninguém magoaste alguém".
O concerto acabou, as lembranças acabaram. A esperança resiste, é verdade. Ínfima e escondida, como sempre, sem esperança de ser mais que ela mesmo. O sentimento permanece, envergonhado e calado.
Só a noite acabou. E a mim passou-me ao lado.

sábado, dezembro 18, 2004
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