terça-feira, novembro 16, 2004

Pensava que era mais forte do que tudo isto. Pensava aguentar sempre com a mesma fachada de imparcialidade tudo o que viesse, julgava já ter esquecido o que sentia. Talvez estivesse enganado, e estava. Estava tão enganado que não resisti e rendi-me ao primeiro sorriso envergonhado que me lanças-te, sorri de volta enquando que me castigava mentalmente por ser tão benevolente.
À pouco, enquanto te fazia reparar no reflexo da lua (como já não fazia há muito) senti-me indefeso perante a apresentação de uma velha coisa, de que estava convencido que nunca teria de ver outra vez.
A príncipio como que foi assustador, mas depois, foi movendo lentamente até a um surpreendente conforto de velho quarto aconchegante. Entretanto, na minha cabeça, saudade e dor misturavam-se num alucinante remoinho de confusão, deixando um sorriso na cara e um golpe no coração.
Enquanto estavamos abraçados, não resisti a cheirar o perfume do teu cabelo, como fazia dantes, e aquele sentimento assustador e reconfortante voltou novamente. Talvez ainda não estivesse preparado para a ideia de que não era assim tão forte, tão decidido quanto julgava.
Talvez não passe só do medo de voltar a sair magoado, o que é certo é que a revisitação deste sentimento relegado para o esquecimento veio-me trazer a um estado de alma um tanto-ou-quanto esquisito. Não é bem tristeza e muito menos alegria. Não estou propriamente feliz mas também não estou deprimido. É mais uma certa desilusão comigo mesmo. Uma desilusão que só pode ser culpa minha, ninguém me manda recalcar uma coisa que nunca se decidiu a abandonar o seu devido lugar. Devia de saber isso. Certo certo é que não há novas esperanças com esta reviavolta interior, o que eu penso que vai acontecer é exactamente o que eu pensava que ia acontecer há uns três meses atrás: nada. Não tenho a ilusão de que o tempo e a distância te fizeram aperceber que precisavas de mim. Não tenho a ilusão de que desta vez é que vai ser. Só voltei ao sítio onde estava à três meses, apenas isso. Como se não se tivesse passado nada, a minha intenção é apenas de esquecer o horror de meses de sofrimento, basta para isso ouvir as palavras certas. Agora o que eu quero é poder dormir descansado.
Só quero reactar a amizade perdida de um amor impossível, nada mais.