As estações de comboios são dos sítios da terra com mais emoções por metro quadrado. Amor confunde-se com saudade e tristeza, perda e tempo ou até mesmo amizade. O turbilhão de sentidos é tanto que não sei se hei-de chorar ou rir, sorrir ou fitar as linhas e comboios tristemente. Naquela tarde, na tarde em que pude novamente despedir-me de ti sem culpas, senti-me absolutamente perdido, sem rumo num lugar cheio de destinos. Olhava-te nos olhos à procura de uma resposta, de uma dica para o comboio que eu devia apanhar para chegar a algum destino, mas só conseguia ver a sombra de quem tentava amar e não conseguia. Naquela tarde em que te deixei no comboio que rumava para o futuro, pensei em largar tudo, deixar tudo e ir contigo, continuar a pôr em dia a conversa de meses, durante as longas horas de viagem. O monstro de metal apitava, obrigava os namorados a dar o último beijo antes da separação, e eu não consegui deixar de te olhar nos olhos. Abraçamo-nos amaldiçoando o dia em que decidimos nos ignorar mutuamente, amaldiçoando as estúpidas das frases que não queriamos ter dito um ao outro e amaldiçoando-nos a nós próprios por não termos tido a coragem de resolver tudo mais cedo. Durante largos segundo permanecemos assim, os dois abraçados num abraço forte, fortíssimo, apertado, secalhar até apaixonado, tentando alargar para horas os poucos segundos que ainda nos restavam. Disse-te "Vais ver que é num instante" com uma lágrima mal escondida no olho com a certeza de que te veria partir para longe em breves segundos. Irias afastar-te novamente, lançando-me numa zaragata entre sentimentos e pensamentos próprios. Disseste-me adeus, enquanto corrias para dentro da carruagem para não perderes o comboio que te levava para longe de mim. O comboio trágico que partia calmamente, torturando-me enquanto via a tua mão num gesto de despedida pelo vidro da janela. O monstro de metal esvanecia-se ao fundo, no horizonte, levando-te contigo. Partiste naquela dia para lá do Tejo talvez, mas pior que isso, partiste do meu coração deixando apenas um vazio impossível de ser preenchido.

quarta-feira, dezembro 01, 2004
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