domingo, novembro 07, 2004

Deito-me com a cabeça cheia dos percalços vividos e olho para o tecto branco e alto com a esperança estúpida de obter uma resposta plausível para a minha indisposição natural. Olho para cima e penso que não merecia nada do que passei e desejo, enquanto fito o tecto admiravelmente branco, desejo ter alguém a quem ligar só para sorrir quando ouvir o "olá" que vem do outro lado da linha. Levanto-me cambaleando miseravelmente até à janela mais próxima e debruço-me para a visão de uma realidade mais feliz e bonita. Olho o horizonte colorido de um pôr-do-sol esperançoso e declaro que "amanhã será melhor". Procuro um sentido e uma razão para aguentar até amanhã que não é mais do que uma simples preposição de melhoria de auto-estima composta por falsos argumentos. Observo o mar do parapeito da minha janela e sorrio. Sempre me acalmou o mar. Quando estou numa encruzilhada emocional, ou mesmo num simples beco sem saída, muitas vezes, só o mar me consegue trazer de novo à realidade numa maré de fantasia. Da minha janela, sob o céu fantástico de um alaranjado tingido pelo pôr-do-sol, sorrio para mim mesmo num sorriso monótono e reconfortante. Um sorriso vazio de alegria, preenchido por uma tristeza e solidão já completamente assimiladas e ignoradas, já parte autêntica de mim.
Fecho a janela e deito-me novamente na cama fitando o céu branco do meu quarto. Ponho a música triste, a banda-sonora que acompanha a minha vida e fecho os olhos, na simples esperança de que amanhã será melhor.