quinta-feira, julho 29, 2004

Medo. Estou afogado em Medo. Grito até a minha voz ficar absolutamente roufenha, mas aparentemente ninguém me ouve. Procuro num olhar desesperado na margem por alguém que me possa ajudar. Ninguém. As forças escasseam e já não me lembro de como se nada, toldado pelo pânico como estou. Passam na minha cabeça imagens da minha vida, tal como nos filmes. Sempre me perguntei se isto aconteceria realmente.
As imagens não são mais do que outros momentos em que me vi em situações semelhantes, mas ao invés de me ajudarem só me desesperam mais ainda.
Levanto a cabeça e olho à volta. Vejo dezenas de cabeças que se afogam lentamente tal como eu. Gritam por ajuda para ninguém. Não nos podemos ajudar mutuamente, estamos demasiado distantes. E estamos demasiado rodeados pelo medo.
Subitamente o mar de medo vai-se esvaziando. Alguém abriu o ralo das profundezas. Mas ainda não estou livre. Caí numa cela de dimensões mínimas e com paredes dez vezes mais altas do que eu.
Bato insitentemente nas paredes até ficar com as mãos practicamente partidas. A cela não tem qualquer tipo de porta ou janela. Não vejo luz, não ouço nada.
Espera: ouço um tipo de ruído como se alguém estivesse a arrastar alguma coisa. Oh não! As paredes estão a aproximar-se ainda mais!
Medo. Vou ser esmagado pelo medo.