sábado, agosto 12, 2006

Vejo fantasmas. Abro os olhos e à minha frente espectros de quem já não anda entre os vivos assombram-me. Quase transparentes, tal como aqueles filmes irritantes dos Ghost Busters nos faziam acreditar, mas apesar de tudo conseguimos distinguir as suas feições, as suas formas, as suas roupas.
Se fechar os olhos, consigo sentir o arfar de quem não respira; os movimentos que as caixas toráxicas fantasmagóricas fazem ao tentar inspirar aquele gás que jamais lhes dará de novo a vida. Em vez do som que normalmente se ouviria quando alguém respira, ouve-se algo semelhante a um grito solitário num buraco cavernoso abafado por um pano num bocal de telefone.
Quando aqueles espectros nos atravessam, sentimos o gelado que nos dizem que devemos sentir nos filmes. Não sei se será essa a sensação real ou apenas a sugerida pela nossa imaginação. Nem tenho maneira de saber. Agora o arrepio, esse sim, é real.
As vozes com que nos falam são absolutamente naturais. Nada daquelas palhaçadas Hollywoodescas de sons guturais e alongados com muitos "uuuuhhh's" pelo meio. Pior, falam-nos como se fossemos nós mesmos. Relembram-nos constantemente aquilo que fizemos. Seja bom... Não, nunca nos relembram o bom... seja mau. Esse sim, é-nos sempre relembrado numa assombração maior que a dos espíritos.
E enquanto estou aqui sentado a escrever isto, tenho cinco sentados à minha volta, em silêncio para não perturbar o movimento ritmado das minhas mãos no teclado. Olham fixamente para mim. Olharão até eu me juntar a eles, olhando para outro qualquer.
Todos vemos fantasmas, mais vale aprendermos a viver com eles.