O caminho é estreito e difícil, carregado de pedras esverdeadas capazes de me atirar ao chão se eu me distrair por míseros milisegundos. O vento forte que sinto no tutano dos ossos teima em me derrubar, despenteia os cabelos mais orgulhosos e até obriga os orientais a semi-cerrar os olhos. Pressiono as 'Nike' com força contra a pedra traiçoeira para não me matar num qualquer afiado precipício que se estende por baixo de mim. Levanto a cabeça para ver o que o Miguel tinha escrito sobre aquilo, sorrio e dou-lhe razão. Está lá bem representado na pedra, a azulejo, tudo o que o comum dos mortais pode sentir ao entrar naquele santuário da Natureza. Senti-me como que um invasor penetrando no sagrado dos sagrados, baixei a cabeça novamente com a desculpa de prestar atenção ao caminho, escondendo a face com medo de ter insultado a divina Mãe ao entrar forasteiro naquele lugar. O vento forte levanta o pó do caminho e obriga-me a olhar em frente. Um pensamento ocorreu-me então naquele momento: "Perfeição". Sentia-me capaz de abraçar o mundo de uma só vez, capaz de esconder o rio com a palma da minha mão. O vento continuava-me a cantar aos ouvidos as maravilhas mil que ali se encontravam à minha humilde vista desarmada. O verde dos sucalcos, qual tapete real, estendia-se pelos meus pés até ao meu muito amado rio. Aqui e ali seguro pelas armações do néctar divino, contrastando a humanidade do ferro com a naturalidade da vinha. Lá no fundo, o rio, esse, fazia o seu rumo rumo à minha cidade, curvando-se perante a magnificiência dos altivos montes, crispando-se perante a teimosia humana. Leva-me contigo, ò rio, leva-me pelos montes e vales sublimes que atravessas. Dá-me boleia até casa, deixa-me correr contigo o meu país. O céu observei então, meio enublado para não tirar o protagonismo da paisagem. Uma linha de luz, holofote de Deus, incidia sobre o rio e o nobre monte, actores principais do alto cenário. O vento continuava a surrar-me o corpo enquanto eu me limitava a tirar as minhas 'polaroids' mentais.
Douro, eu te amo.

domingo, maio 01, 2005
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