sexta-feira, abril 08, 2005

Corro para fugir de tudo. Dos meus medos, das minhas preocupações, das minhas responsabilidades. De tudo. Alongo os meus músculos para o esforço, preparo-me para o sofrimento físico em vez do sentimental. Sempre é menos doloroso.
Olho em frente, determinado. O caminho é longo, o percurso sinuoso. Mas não temerei. Olho para o lado, para o mar. O cheiro calmante da maresia, a visão da magnífica natureza enche-me de força.
A música para os meus ouvidos nos meus ouvidos. Tudo está pronto. Respiro fundo e começo a correr.
Olhos fixos no objectivo invísivel, mentalmente trauteio as músicas que vou ouvindo. "Pronto pra ir, ao fim do mundo atrás de ti". Pronto para correr até ao fim do mundo.
O vento manso na minha cara refresca-me corpo e alma. O barulho das ondas como acompanhamento do Jorge Cruz nos meus ouvidos produz uma estranha harmonia pacificadora. Ao ritmo das minhas passadas desfilam-me na cabeça imagens que pretendo esquecer, imagens das quais eu nem me recordava e imagens que eu pretendo nunca mais esquecer. Momentos de felicidade e momentos horríveis ocorriam-me sempre que fechava os olhos.
Lá no alto, no cimo do molhe, entreguei tudo como sacrifício à Senhora do mar. Ela sorriu ao meu esforço com uma enorme vaga.
Estou livre dos pesos que me atormentam por agora.
A corrida libertou-me das preocupações.
O sofrimento físico fez desaparecer por momentos o outro.
A correr, sou mais livre que um pássaro, mais leve que uma pena.
Quero correr até à eternidade.