domingo, abril 24, 2005

Barulho, alcool, fumo. Ambiente tão característico de um qualquer 'club' nocturno, na esquina de uma qualquer rua obscuramente marginal, perdida numa cidade grande como qualquer outra.
Tosse, conversas, risos. Luzes semi-boémias, tons de vermelho nos holofotes. O guitarrista bebe o seu último copo antes de pegar na guitarra, o baterista fuma o último charro antes de dar vida às baquetas. O vocalista alheado de tudo como sempre, procura parecer profundo e sensível, tudo fachada, enquanto o baixista flirta com uma das miúdas do bar.
"Voz-off" ouve-se por trás das cortinas, arroucada pelo fraco sistema de som. É a hora de entrar em palco, é a hora de tentar ser alguém. O guitarrista concentra o seu génio singular desperdiçado naquela péssima banda, o vocalista prepara a má voz para as letras intelecto-romântico-foleiras. O baterista e o baixista tocam baixinho para que ninguém se aperceba da falta de talento.
"Estou aqui... por ti..." canta o homem do microfone. Palmas com mais alcool que vontade premeiam a exibição medíocre, ainda pior que a anterior.

O guitarrista arruma a 'Fender' no estojo enquanto olha para o bar vazio.
"Nunca passarei disto", disse. Conteve a lágrima mal-escondida enquanto batia com a tampa do estojo violentamente.
Fechou a porta de serviço atrás de si e saiu para a noite escura, mais clara que a sua vida.