segunda-feira, março 28, 2005

A morte é a unica constante da vida. Concreta e definida é a ideia que um dia todos havemos de morrer. A única coisa de que tenho certezas, é que um dia hei-de morrer.
Mas eu não tenho medo de morrer. Não tenho medo de deixar de respirar, de não voltar a ver o mar. Nem pena sequer. Tenho pena das pessoas que cá ficam. Tenho pena, compaixão pelos que ficam a sofrer. A sensação de perda definitiva é a pior de todas. Muito pior do que o falecido esposo fica a viúva que o amava. Muito pior que o filho que morreu num desastre fica a mãe sempre que anda de automóvel. Depois da morte tudo passa. A morte é libertadora de uma nova vida, assim me diz a minha crença. Mas para os que não atingiram ainda essa fronteira final, a morte de alguém amado é o pior dos castigos.
Ainda hoje, estive numa sala rodeado por ela. Vi o desespero dos mortos queridos nos olhos da minha mãe; vi a angústia de uma morte próxima nos olhos da minha madrinha; vi o alívio que a morte traria espelhado nos olhos da mãe da minha madrinha; vi o medo total da morte nos olhos receosos da minha avó. As quatro falavam da morte. Eu ouvia remoendo por dentro a remota possibilidade de perder alguém próximo. Não tenho medo da morte, tenho medo que os outros morram. Tenho medo de não tornar a ver mais a cara de alguém que eu goste muito, de não tornar a falar com ela. Ainda não aceitei a morte como a continuação da vida. Ainda não cresci o suficiente para isso. Um dia vou conseguir, mas provavelmente, só depois de perder alguém. Só espero que esse dia demore muito tempo. Não estou preparado para a morte de ninguém, excepto para a minha. Só consigo imaginar a dor de perder alguém. E sei que a minha imaginação neste aspecto tem fronteiras muito limitadas.
Não tenho medo da morte. Não tenho medo de falar nela. Não tenho medo de pensar nela. Não tenho medo que ela me leve.
Tenho medo que ela leve a pessoa que está ao meu lado.