sexta-feira, janeiro 14, 2005

Ele caminhava calmamente, na praia,descalço, calcorreando a areia molhada pelo sal do mar e pela impureza da chuva. Cabisbaixo, triste e sonhador, arrastava os pés sem vontade de continuar a viver naquele estado. Se não fosse tão cobarde, tentaria mesmo o suicídio que assassinava tantos jovens da sua idade. Ocasionalmente, olhava para o mar seu fiel amigo e companheiro, exugador sempre pronto das lágrimas tristes de seus olhos, consolador do seu pobre coração desfeito por um qualquer maremoto de nome próprio bem feminino.

Ela, corria na esperança de ainda o encontrar. As lágrimas arrependidas escorriam dos seus olhos para a areia marcada pelas pegadas tristes dele. A tristeza dele inundara-a de tal maneira que estaria mais seca e imune de culpas se estivesse no mar. Corria o mais rapidamente que as suas pernas permitiam. Começou a ver um vulto que parara mais à frente e contemplava o céu corporalmente desesperado. "É ele" pensou. "Porque é que eu fiz aquilo?" A culpa, o arrependimento mas principalmente o amor, tomaram conta dela.

"Porquê?" bradava ele aos céus furioso com o Divino. "Porquê eu?" Sentou-se a chorar. A tristeza já o havia matado. Não era mais necessário o suicídio. Ouviu então uma voz: "Desculpa..." voltou-se e levantou-se num instante. Ela sorria para ele, pedindo perdão com uma expressão que clamava por si própria. "Desculpa... eu estava errada." Abraçaram-se apertando-se sem vontade de alguma vez se largarem. "Quero mudar a minha resposta, desculpa... eu não me tinha apercebido..."
Beijaram-se. Um beijo longo e apaixonado. Os seus corpos fundiam-se e deixaram naquele momento de ter dois corações mas apenas um único. Sorriram os dois, limpando as lágrimas um ao outro.
"Amo-te" disse ela.
"Amo-te" repetiu ele.

Talvez um dia o amor real se assemelhe ao dos livros.