segunda-feira, setembro 27, 2004

Hoje é noite de lua cheia. É noite em que as memórias se tornam mais fortes, é noite onde os desejos se aproximam e as saudades se agravam.
Quando saí hoje de casa e olhei para cima, lembrei-me das noites irmãs, distantes, onde olhava para a lua especialmente brilhante e simplesmente ficava contente por poder ter mais oportunidades para inverter a minha sorte. Olhava a lua e acreditava, ou antes, sonhava, que em noites de lua cheia a minha sorte estava destinada a mudar. Olhava a lua e sorria, pois sabia que as coisas não podiam ser sempre iguais, sorria porque pensava que merecia melhor destino e alegrava-me porque sempre sonhara que seria numa noite dessas que o meu azar me abandonava. Quem sabe, talvez fosse naquela.
Naquelas noites quando contemplava a maravilha celeste, não conseguia tirar o riso estúpido da minha face, e durante várias vezes, sempre que procurava outras palavras, só me saía: "A lua está linda hoje". Fitava-a insitentemente como se dela saisse a solução que eu esperava. Naquelas noites quando contemplava a beleza lunar acreditava que a felicidade e o amor talvez também me estivessem destinados.
Mas hoje, quando saí e olhei a lua cheia, só consegui pensar em ti e no passado, e até agora não me saiu o mesmo pensamento estúpido e descabido da cabeça: estava enganado. Estava enganado quando pensava que julgava ter morto tudo, estava enganado quando julgava que tinha esquecido tudo, estava mesmo enganado quando julgava estar pronto para nova jornada.
Tudo isto estava apenas num canto escuro que hoje foi iluminado pela luz forte da lua cheia.